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Pró-Reitoria de Cultura da UFC

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Pró-Reitoria de Cultura presente no Seminário Internacional Políticas para as artes – Imaginando margens em São Paulo

Data da publicação: 18 de setembro de 2024 Categoria: Arte na Universidade, Cultura, Notícias Tags: ,

Foto da solenidade de abertura do Seminário Internacional Políticas para as artes – Imaginando margensTendo as águas dos rios como metáfora, o Seminário Internacional Políticas para as artes – Imaginando margens, teve início na última terça-feira, dia 17 de setembro, em São Paulo. O evento conta com a participação de gestores públicos do campo cultural, representantes de universidades, artistas, trabalhadores do Ministério da Cultura e profissionais da área. Para a realização do Seminário, a Funarte contou com a parceria institucional do Sesc São Paulo, cujo papel como colaborador e realizador foi enaltecido nas falas, evidenciando sua importância para o fomento e produção cultural no Brasil, e mais especialmente no estado de São Paulo.

A abertura do evento com o título “Mina d’água” foi realizada pela atriz Zezé Motta, que compartilhou um emocionante relato sobre sua trajetória artística por meio de uma carta para as artes brasileiras de ontem, hoje e amanhã. No texto, Zezé destacou a relevância das políticas públicas de cultura e arte para a sustentabilidade do setor e para a longevidade da produção artística. Evocando a ancestralidade e com tom de resistência, a atriz ainda presenteou o público presente com uma interpretação da música “Minha missão” de João Nogueira e Paulo César Pinheiro. A apresentação artística foi além de um momento lúdico e reforçou a presença da atriz como pensadora e agente política no campo das artes.

“As águas são a epifania da criação” (Manoel de Barros)

Durante a cerimônia de abertura, a Funarte ressaltou o papel das universidades como agentes públicos de cultura e para nós da Universidade Federal do Ceará é fundamental somar-se a esse projeto de país que vê nas artes e na cultura dimensões estratégicas para a democracia e para o desenvolvimento do Brasil. Maria Marighella, presidenta da Funarte, ressaltou que debater a Política Nacional das Artes é discutir a vida, destacando a importância da arte tanto na criação quanto na fruição e acesso. Ela também enfatizou a arte como um direito fundamental que deve ser garantido pelas políticas públicas. Em sua fala, explicou que a elaboração da Política Nacional das Artes ocorrerá em diversas etapas, sendo este seminário uma dessas fases, voltada para a escuta dos artistas. Ainda serão vivenciadas outras etapas, incluindo a formulação de diretrizes, valores e princípios, culminando em uma consulta pública para a finalização da Política Nacional das Artes.

O Secretário-Executivo do Ministério da Cultura, Márcio Tavares, destacou a importância da retomada do MinC para reposicionar o Brasil como um país soberano e integrado às discussões globais sobre cultura. Ele também pontuou que a cultura desempenha um papel central na reconstrução democrática do país, sendo fundamental para a promoção de um diálogo que reflita a diversidade cultural do Brasil e sua relevância no cenário internacional. Márcio destacou que a cultura não deve ser vista apenas sob uma ótica lúdica, mas como parte essencial do desenvolvimento do país, sendo também um instrumento de reparação histórica. Segundo Márcio, o Ministério da Cultura fundamenta suas políticas em um tripé que abrange cidadania, economia e estética, reforçando o papel do ministério como um pilar da democracia, frequentemente ameaçado em momentos de autoritarismo.

A importância da participação da UFC no Seminário

Do ponto de vista da Pró-Reitoria de Cultura da Universidade Federal do Ceará (UFC), o seminário se mostra relevante para refletirmos sobre formas de estruturar o nosso Plano de Cultura. Como o seminário faz parte da construção da Política Nacional das Artes, ele proporciona uma rica oportunidade para compreender como a escuta ativa dos artistas e fazedores de cultura deve ser uma etapa central para identificar as principais dificuldades e potencialidades nos projetos e ações artísticas realizadas na UFC. Essa experiência pode ser replicada na UFC, especialmente por meio da escuta aos projetos do Programa de Promoção da Cultura Artística, que são agentes importantes da nossa universidade na produção, circulação e difusão das artes e da cultura.

O evento também tem sido uma oportunidade para trocar experiências com outros agentes culturais e fortalecer parcerias, como a já consolidada com a Secretaria de Formação, Livro e Leitura do MinC para a formulação do nosso Plano de Cultura. O secretário Fabiano Piúba e a diretora de Educação e Formação Artística, Mariângela Andrade, estão presentes no evento e tivemos um breve diálogo com eles sobre as novas possibilidades de colaboração mútua que temos desenvolvido em relação às Escolas Livres de Formação em Arte e Cultura. Também dialogamos com Leonardo Lessa, Diretor-Executivo da Funarte, e Aline Vila Real, Diretora de Fomento e Difusão regional da Funarte, que têm acompanhado a participação da UFC na construção da Plataforma Funarte Redes das Artes, coordenada na nossa instituição pelo Professor Ângelo Brayner, do Departamento de Computação.

Ainda em relação ao nosso contexto, as falas do evento nos instigam a refletir sobre como a reconstrução do Ministério da Cultura impacta diretamente nas ações de cultura e arte que temos elaborado no âmbito da universidade. Considerar essa reconstrução ao elaborar nossa política e no nosso plano de cultura é fundamental para conectarmos as ações da universidade com as políticas culturais em âmbito nacional, visando fortalecer, integrar e articular o campo cultural e artístico, assegurando a permanência de ações e evitando descontinuidades devido a mudanças de gestão ou governo.

Relato do segundo dia do Seminário Internacional “Política para as Artes: Imaginando Margens”

“Negociar com o mundo as nossas presenças” (Uýra Sodoma)

O segundo dia do seminário foi marcado por diálogos ricos com artistas de diversos segmentos, linguagens e territórios. A primeira mesa, intitulada “Geografias e Imaginários em Trânsito”, destacou a importância das políticas públicas para garantir uma melhor representação e participação de diferentes populações e territórios brasileiros no fomento às ações artísticas. A fala do curador Moacir dos Anjos foi especialmente impactante ao enfatizar que os processos curatoriais ocorrem num contexto específico e podem tanto confirmar quanto desafiar visões hegemônicas sobre o mundo. Ele afirmou que a curadoria é uma prática de representação que se articula no espaço-tempo, gerando equivalentes sensíveis e representações de mundo que podem assumir diversos formatos e linguagens. O curador destacou que nenhuma representação pode abranger tudo e todos, pois as escolhas curatoriais são recortes da realidade e refletiu sobre como nossas práticas curatoriais podem reproduzir representações hegemônicas tidas como universais. Questionou ainda a suposta neutralidade destas, sugerindo que estão sempre abertas a contestações e rearranjos. A partir dessa perspectiva, ele nos convida a pensar políticas para as artes que refaçam as representações do real, propondo novos olhares. A reflexão de Moacir dos Anjos nos provoca uma reflexão sobre como temos realizado os processos curatoriais nos nossos equipamentos culturais e a necessidade de desenvolvermos mecanismos de valorização, difusão, democratização e qualificação desses processos na UFC.

A mesa também abordou um olhar a partir do continente africano, enfatizando a importância de romper fronteiras e se engajar de maneira mais profunda com esse território. Quito Tember, artista moçambicano, trouxe essa perspectiva ao compartilhar sua experiência na área da dança e defendeu que vençamos as nossas fronteiras e passemos a ter um olhar mais atento para a África. Christiane Jatahy, renomada autora e diretora de teatro, trouxe outra contribuição valiosa, destacando a necessidade de um apoio contínuo ao trabalho artístico, não apenas na execução de ações, mas também nos processos de criação, pensamento e reflexão.

Na segunda mesa do dia, Fernando García compartilhou sua experiência no Projeto mARTadero na Bolívia e enfatizou que a gestão cultural deve sempre mirar numa estratégia para o futuro, tendo um olhar visionário mesmo tendo que lidar com os desafios do presente. O advogado e professor Vitor Drummond ressaltou que “o Brasil é um país que é um mundo” e defendeu a cultura como vetor de desenvolvimento que deve ser visto como investimento, pois os recursos aplicados em cultura e arte trazem retornos à sociedade. Já a artista amazonense Uýra Sodoma falou sobre sua produção artística, que parte de seu território, evocando inteligências ancestrais, mas apresentou também um olhar amplo defendendo que compreendamos a arte a partir de um contexto histórico e político. Ela compartilhou uma reflexão profunda sobre a necessidade de “negociar com o mundo as nossas presenças”.

O último painel do dia teve um formato de entrevista pública, proporcionando uma escuta mais integrada, modelo interessante a ser replicado em futuros eventos que realizarmos na UFC. Nesse painel, Áurea Carolina, ativista e ex-parlamentar, destacou a importância da comunicação popular e periférica, defendendo a construção de colaborações a partir dessas formas de comunicação. Leo Suricate, artista e comunicador cearense, reforçou o impacto da internet em sua trajetória artística, destacando como as redes sociais foram essenciais para sua profissionalização e sobrevivência, especialmente em meio à violência urbana da cidade de Fortaleza. Ele defendeu a criação de mecanismos de sustentação para a classe artística, sugerindo uma política como o “Bolsa Família” para artistas, considerando que a extrema-direita tem disputado e capturado muitos desses profissionais. Leo também criticou as políticas públicas de cultura, que muitas vezes beneficiam “pequenas castas” em detrimento de grupos mais afastados dos centros de poder.

As reflexões do seminário reforçaram a necessidade de se abrir espaços de escuta na construção do nosso plano de cultura, valorizando a diversidade de realidades e perspectivas, ouvindo atentamente docentes, técnicos administrativos e estudantes, que tem na UFC um espaço central para suas produções culturais e artísticas. A partir dessas reflexões, também foi possível pensar nos processos de representação que a universidade tem reforçado em suas produções. Cabe a nós um olhar mais sensível às representações contra hegemônicas, historicamente invisibilizadas, reconhecendo e enaltecendo a presença das populações periféricas, dos saberes tradicionais e ancestrais produzidos fora dos muros universitários, e uma ampla articulação com o campo artístico do nosso Estado, que encontra na UFC um espaço de formação, mas também de diálogo e acolhimento para suas criações.

Textos e fotos: Glícia Pontes

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